Presentemente os sistemas agroalimentares enfrentam grandes desafios relacionados com o aumento da produtividade agrícola, a conservação dos recursos naturais, a nutrição e saúde pública. Podemos dizer que do ponto de vista da competitividade e sustentabilidade da produção, a agricultura é um sector fundamental e que tem muito espaço para melhorar, tendo para tal de proceder a algumas alterações no seu modo de produção.
Ao nível da produção agrícola, assumem maior relevo o uso eficiente dos inputs dos sistemas agrários, a saúde dos solos e dos ecossistemas, a redução da extração de recursos promovendo a circularidade, a descarbonização e as respostas às alterações climáticas.
Nesta perspetiva todos os agentes serão importante (produtores, consumidores, Administração Pública). O importante é que todos ajudem e trabalhem para promover um ambiente mais favorável às mudanças e transformações necessárias, de forma informada, fortalecendo também a inovação e a promoção das relações do cidadão, agricultor, ou produtor do sector agroalimentar.
Os consumidores assumem aqui um papel importante até porque muitos têm vindo a alterar os seus comportamentos e os padrões de consumo, em consequência de uma maior consciencialização do papel que a agricultura e a alimentação assumem na sua qualidade de vida e na sua saúde, procurando, cada vez mais, alimentos nutricionalmente equilibrados e mais ajustados às suas opções de vida. No entanto há ainda um grande caminho a percorrer.
O que se pretende é pois uma agricultura mais inovadora, eficiente e sustentável, de modo a promover o bem-estar e a sustentabilidade da sociedade.
São vários os desafios a enfrentar, tais como:
- Alterações climáticas;
- Conservação dos solos;
- Uso eficiente da água e energia;
- Redução das emissões poluentes;
- Conservação da biodiversidade;
- Preservação dos ecossistemas;
- Promoção da agricultura circular;
- Tratamento e destino dos efluentes pecuários;
- Redução das perdas e desperdícios alimentares.
A Agenda de Inovação para a Agricultura 2020-2030 publicada na Resolução Conselho de Ministros nº 86/2020, de 13 de outubro, define um conjunto de medidas alinhadas com estas preocupações, assim como algumas prioridades: o combate às alterações climáticas, o esbatimento das desigualdades, a alteração da nossa estrutura demográfica e a transição digital. Este é o propósito, fazer crescer o sector agroalimentar, inovando-o, sendo cada vez mais sustentável e amigo do ambiente
Cada sector de produção e concretamente o sector vitivinícola, deverá ter em conta algumas orientações e compromissos internacionais nomeadamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o Pacto Ecológico Europeu (Green Deal), (Sociedade mais justa e próspera; Economia moderna e competitiva; Proteger e conservar os recursos naturais; Economia lima e circular; Restaurar a biodiversidade; Reduzir a poluição –> neutralidade carbónica em 2050; Proteger a saúde e o bem-estar dos cidadãos), onde se destaca a estratégia «Do prado ao prato» (Farm to fork), que pretende implementar um sistema alimentar justo, saudável, amigo do ambiente, garantindo que os consumidores europeus beneficiam de uma alimentação saudável e a preços acessíveis:
a) Estimular o consumo sustentável de alimentos saudáveis a preços acessíveis para todos.
b) Reduzir o impacto ambiental da cadeia alimentar
c) Expandir a agricultura biológica
d) Reduzir a dependência, o risco e o uso de pesticidas químicos e antibióticos
e) Desenvolver uma agricultura inovadora e protetora da saúde animal
f) Combater a fraude alimentar e reduzir o desperdício alimentar
g) Assegurar uma transição equitativa e inclusiva para os agricultores que permita a valorização dos mesmos na cadeia de valor
É claro que todas estas metas levarão alguns anos a ser atingidas, mas há que fazer caminho para um futuro melhor e mais sustentável.
Igualmente há que considerar as alterações nas preferências dos consumidores e nos padrões de consumo, com particular incidência nos países desenvolvidos, resultantes de novos hábitos e preocupações de saúde associados a uma população tendencialmente mais urbana e mais idosa, bem como fruto de questões ambientais, preocupações com o bem -estar dos animais, com a preservação dos recursos ou relativas às alterações climáticas.
O crescimento do rendimento nas economias emergentes levou ao aumento do consumo de produtos de maior valor, como a carne e os produtos lácteos, ao passo que as crescentes preocupações societais e de proteção ambiental nas economias desenvolvidas têm levado os consumidores a escolher mais alimentos certificados como biológicos e nutricionalmente equilibrados.
A segurança alimentar e nutricional tem sido uma das prioridades, tanto a nível global como nacional e regional, combinada com a crescente preocupação com a saúde das populações.
O sector agroalimentar enfrenta, assim, o desafio de aumentar a disponibilidade total de alimentos e satisfazer a crescente procura de um cabaz mais diversificado por parte dos consumidores, assegurando o cumprimento de normas de qualidade mais elevadas (por exemplo, de segurança da cadeia alimentar ou ambientais) e mantendo simultaneamente os alimentos a preços acessíveis.
Igualmente, e no sentido de promover uma agricultura mais sustentável, surge o desafio da resposta às alterações climáticas, de uma maior preocupação com a conservação dos solos, do uso eficiente da água e energia, da redução das emissões de poluentes atmosféricos, da conservação da biodiversidade e preservação dos ecossistemas, assim como o desafio da promoção da economia (neste caso «agricultura») circular, tendo, designadamente, maior atenção ao tratamento e destino final dos efluentes pecuários, e à redução das perdas e desperdícios alimentares (estimados em 1/3 da produção).
A evolução da adoção de novas tecnologias, permitem acelerar mudanças nos sistemas agrícolas e alimentares para transformar a forma como os alimentos são produzidos, possibilitando, ainda, uma gestão mais sustentável dos recursos naturais para enfrentar o contexto atual de recursos limitados, e facilitando o comércio, bem como a disseminação de informação quanto aos alimentos produzidos, fator amplamente valorizado pelos consumidores de hoje.
Importa pois identificar as necessidades e as prioridades para o desenvolvimento do sector agroalimentar em Portugal:
“Criar uma sociedade mais informada e consciente sobre as suas escolhas, ciente dos contributos e impactos do sector agroalimentar na sua saúde e bem -estar;
Valorizar os nossos recursos endógenos, gerir de forma sustentada os nossos recursos naturais, tendo por base uma gestão territorial integrada, e combater o despovoamento, através do desenvolvimento do tecido socioeconómico dos territórios rurais;
Mobilizar os produtores em torno de uma cadeia de valor mais organizada, capacitada e inclusiva, em prol de uma agricultura mais competitiva e sustentável, económica, ambiental e socialmente;
Fortalecer e adequar o ecossistema de inovação agrícola às necessidades reais do sector, e promover uma Administração Pública cada vez mais moderna e eficaz, ao serviço da sociedade e dos produtores;
Atrair mais recursos, financeiros e humanos, para o sector agroalimentar, dinamizando o acesso a novas fontes de financiamento e captando jovens qualificados.” (1)
O sector vitivinícola, tal como outro sector agrícola, é altamente dependente dos recursos naturais, energia solar, água limpa e potável, de solos saudáveis, de condições climatéricas apropriadas. A proteção e preservação desses bens, por meio de práticas sustentáveis, são fundamentais para a sua viabilidade económica a longo prazo. A viticultura é uma parte essencial do ecossistema rural e tem outros benefícios que vão muito além da produção de vinho.
A sustentabilidade surge como a combinação de três aspetos distintos: económico, ambiental e social e a viticultura tem potencial para contribuir para todos eles. Só como uma melhoria do desempenho destes três fatores se poderá promover o reconhecimento do desempenho da sustentabilidade dos vinhos produzidos.
O que se constata é que tanto os mercados externos como no interno, começam a exigir garantias de aplicação dos princípios de sustentabilidade, sendo um aspeto de valorização importante no preço do produto.
Segundo o Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), “…ligar a competitividade com os objetivos ambientais e criar oportunidades de uma estratégia de sustentabilidade passa por:
- Reduzir custos e aumentar a viabilidade económica;
- Incentivar a pro-atividade em relação ao aumento das pressões ambientais;
- Responder às preocupações sociais;
- Melhorar a qualidade e competitividade do produto final;
- Reduzir os desperdícios de produtos;
- Minimizar os riscos de exposição a responsabilidades;
- Colocar produto em mercados novos;
- Integrar em rede, produtores com sensibilidades semelhantes;
- Providenciar maior transparência dentro da cadeia de fornecedores e implementar estratégias de comunicação inteligente.
A atuação dos produtores deverá ser a três níveis:
Viticultura (produção de uva) – produção; gestão de solos, gestão da água; gestão de doenças e pragas; eficiência energética; gestão de resíduos da vinha.
Adega (produção de vinho) – gestão e qualidade da água na adega; gestão de resíduos; eficiência energética; gestão de doenças e pragas.
Viticultura e Adega – qualidade do vinho; gestão sustentável dos ecossistemas; qualidade do ar; manuseamento e gestão de materiais de produção; opções de embalamento; recursos humanos; comunidade envolvente; socio-economia e desenvolvimento.
Pretende-se que através de práticas inovadoras na produção do vinho, estas levem à conservação de recursos naturais e à biodiversidade, contribuindo para o combate às alterações climáticas, gerando oportunidades de crescimento e valorização do produto final, desenvolvendo ao mesmo tempo novos mercados para produtos e serviços e promovendo a manutenção de bens públicos (qualidade da água, ar, solo e conservação da biodiversidade).” (2)
Através duma abordagem integrada, envolvendo toda a cadeia do valor do vinho poderemos num futuro breve equilibrar da melhor forma os aspetos sociais económicos e ambientais, contribuindo assim para um sector mais promissor e duradouro.
(1) Agenda de Inovação para a Agricultura 2020-2030
(2) Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo
Artigo publicado na Revista Espaço Rural nº 139 (Nov/Dez) CONFAGRI